* Valéria Borborema
Não! A ciência não pode tudo! Se pudesse, o abismo social não seria tão avassalador e horrendo, apesar de todo artefato científico à disposição da humanidade!
Não! A ciência não pode tudo! Se pudesse, a arrogância observada nos meandros da Academia, dos centros de pesquisa não seria tão constrangedora! O saber passa a valer mais como status do que pela paixão de saber! Especialmente porque, no universo das descobertas, nada é absoluto! Tudo pode e deve ser questionado! A certeza baseia-se na dúvida!
Não! A ciência não pode tudo! Se pudesse, a miséria humana não seria tão devastadora, apesar do processo civilizatório sugerir tanto avanço!
Não! A ciência não pode tudo! Se pudesse, o obscurantismo arrancado das vísceras da Idade das Trevas não encontraria tanto espaço no século XXI! E o século das Luzes, que celebrou, vigoroso, o esclarecimento, o empoderamento humano, ainda refletiria a claridade esfuziante do avançar constante rumo ao desconhecido!
Não! A ciência não pode tudo! Se pudesse, advertiria a humanidade de que uma espécie invisível, microscópica, lograria êxito em colocar o planeta de joelhos... justo numa época quando os segredos da existência caem um após outro, desnudos, impotentes...
Não! A ciência não pode tudo! Verdade!
Mas apenas ela detém o segredo para libertar o humano das agruras da caverna!
Apenas ela possui condições de investir contra a inquisição de corpos e mentes, patrocinada pelo atraso daqueles que rejeitam o conhecimento por preferirem as correntes da cegueira obtusa, nauseante!
Apenas ela é capaz de abater a alienação do escravo que insiste em aceitar o tronco, mesmo diante da emergência do Quilombo!
* Psicóloga Clínica