whatsapp1  38 99965-2757 email1  valeriaborborema@gmail.com

Pré-adolescente/Adolescente

Para a Psicanálise, a pré-adolescência / adolescência configura-se como um tempo lógico em que o sujeito depara-se com o real do sexo. Um real que, por estar fora do sentido, não é o preconizado pela Ciência, mas emerge na contingência, ao acaso e que se apresenta na inexistência da relação sexual, famoso aforismo lacaniano, enquanto complemento passível de uma escrita lógica, matematizável. A relação humana, o laço social é “um encontro de fala” (BROUSSE, 2014, p. 265). Trata-se de uma época em que ocorre a separação da autoridade dos pais, substituída por identificações grupais. O sujeito experiencia o luto advindo de perdas. O luto pelo corpo infantil. O luto pelos pais da infância. O luto pela vida de então.

A contemporaneidade oferece ao pré-adolescente / adolescente ainda mais desafios. Um deles é a possibilidade de inserção social a partir da internet, onde, segundo Bauman (citado por LAGUÁRDIA DE LIMA, 2014, p. 112), “a circulação é mais importante que a mensagem”. A ordem é postar, mostrar-se, palpitar e até ofender, humilhar, trucidar verbalmente. As redes sociais atraem tanto a atenção desses sujeitos porque lhes fisgam o gozo. A linguagem veicula gozo, já afirmava Lacan, o gozo do sentido. Há, contudo, uma dimensão do gozo que não se submete ao significante. O do sexo. Pode ser que, para o pré-adolescente / adolescente, o mundo virtual seja anteparo para se evitar o encontro com o outro sexo. A internet também segrega, afasta o diferente, cria comunidades em torno de um sintoma comum. O discordante é rechaçado. Bulliyng? Certamente. Qual o impacto do não ser aceito na existência do pré-adolescente / adolescdente?

Outra face obscura, assustadora do século XXI, é a violência. Lacan já dizia com propriedade no Seminário 5 – As formações do inconsciente: “na relação inter-humana, ou a violência ou a fala” (SANTIAGO, CARNEIRO e SALUM, 2014, p. 94). No ambiente escolar deveria imperar, por meio dos projetos pedagógicos, intermediados pela linguagem, efeitos da sublimação, no sentido de desviar a pulsão do objeto original e reorientá-la rumo a objetos civilizatórios na forma de conhecimento. O que acontece, porém, muitas vezes, é algo diferente. Se há declínio da linguagem, a violência reina (SANTIAGO, CARNEIRO e SALUM, 2014). Por que a escola parece fracassar, ainda que alicerçada no estímulo à fala, em meio a relações de agressividade e violência extremas?

A Psicanálise diferencia agressividade de violência. Enquanto a agressividade pode ser recalcada, a violência resiste à palavra. A agressividade integra a violência. Sempre conforme Lacan, a agressividade surge no imaginário, no estádio do espelho, que pauta a relação com o outro. Um campo de discórdia, disputa que precisa ser mediado pelo simbólico, pelo significante, a fim de tratar a agressividade. Agressividade que, então, passa a ser intenção. Já a violência transcende a agressividade, não se restringe a ela, é estrutural, intrínseca à pulsão. A violência é estrutural porque, nas relações inter-humanas, “é o que pode produzir-se como fala” (SANTIAGO, CARNEIRO e SALUM, 2014, p. 95). Articulação significante, a fala submete-se ao recalque. A violência, ninguém sabe o seu fim. Dito de outro modo, é o que não cessa de não se escrever. O excesso, o sempre mais...  

A meta é escutar o pré-adolescente / adolescente com atenção. Dar a ele espaço para falar e ajudá-lo a descobrir, na sua singularidade, quais os recursos de que dispõe para lidar com as vicissitudes da vida. Captar na hiância entre significantes o sujeito do desejo.

REFERÊNCIAS

BROUSSE, Marie-Hélène. A psicose ordinária à luz da teoria lacaniana do discurso. In: Os Corpos Falantes e Normatividade do Supersocial. Ed. Cia de Freud, 2014, pp. 259-280.

LAGUÁRDIA DE LIMA, Nádia. Da lei edipiana à norma entre pares: as identificações nas redes sociais da internet. In: Os Corpos Falantes e Normatividade do Supersocial. Ed. Cia de Freud, 2014, pp. 109-133.

SANTIAGO, Ana Lídia; CARNEIRO,  Bernardo Micheriff; e SALUM, Maria José Gontijo. Violência / Segregação na diversidade da Educação Inclusiva: a Conversação como método de intervenção. In: Os Corpos Falantes e Normatividade do Supersocial. Ed. Cia de Freud, 2014, pp. 89-108.

© 2018 Valéria Borborema. Todos os Direitos Reservados. Designed By Jadir Santos